sexta-feira, 21 de novembro de 2008

A BELEZA E AS BELAS ARTES

A beleza fala à alma; excita a admiração e a simpatia. No dizer de Plotino, admirar é imitar; simpatizar é vibrar em uníssono, e não se pode amar uma coisa sem procurar assemelhar-nos a ela: Amor pares invenit aut facit.O primeiro efeito da beleza é, assim, levar-nos instintivamente à imitação e a reproduzi-la em nós. A admiração, quando atinge determinado grau, estimula a actividade, provoca a exaltação e, sob certas circunstâncias, fecunda a inspiração. A partir deste momento já não é suficiente compreender a sublime linguagem da arte; passa-se a desejar falar essa linguagem, isto é, a exprimir o que se sente. Assim, a Arte se apresenta sob a forma reflexa. A criação reflexa da beleza pelo homem constitui a própria Arte.

De acordo com a forma pela qual exprimem a beleza, as artes dividem-se em Artes Plásticas e Artes Fonéticas. As Artes Plásticas – arquitetura, escultura, pintura, desenho – empregam as formas e as cores. Projetam os objectos nos espaço, em três dimensões, como a escultura e a arquitetura, ou em somente duas, como a pintura e o desenho, suprindo a terceira dimensão através dos artifícios da perspectiva.

As Artes Fonéticas – música, canto, oratória, poesia, teatro – exprimem a beleza por meio de sons musicais ou de sons articulados. Estas obras de arte desenvolvem-se no tempo. Não estando localizadas no espaço, como as artes plásticas, as artes fonéticas são mais expressivas do que descritivas. Apesar disso, a poesia, devido às metáforas que emprega e devido à imaginação, que representa as coisas ao vivo, participa grandemente do privilégio das artes plásticas.

Para descontrair, uma pequena história sobre a Beleza e o Belo, escrita pelo Irmão e filósofo irreverente, Voltaire:Perguntem a um sapo o que é a beleza, o belo admirável, e ele responderá que á a fêmea dele, com os seus dois grandes olhos redondos, salientes, espetados na pequenina cabeça, com um focinho largo e achatado, barriga amarela, dorso acastanhado. Perguntem ao diabo, e ele dirá que é um belo par de cornichos, quatro garras afiadas e um rabiosque enrolado. Consultem, por fim o filósofo, e este responderá com uma algaraviada desconexa, numa gíria arrevezada; é-lhes indispensável algo de conforme o arquétipo do belo.

Em suma o sentimento do belo é uma coisa muito relativa, do mesmo modo que aquilo que é decente no Japão é indecente em Roma, e o que está em moda em Paris é detestado em Pequim.

O SUBLIME, O BONITO E O FEIO

O sublime não é somente o belo no seu grau mais elevado. O sublime distingue-se essencialmente do belo, de acordo com Kant, que diz: “O sublime é a expressão sensível do infinito”. O belo é a expressão harmoniosa da vida, em particular, da vida humana; o caráter do sublime é a intensidade, a ilimitação. O sublime pode encontrar-se no caos e até no horrível, onde a imaginação se confunde e a razão se espraia à vontade, estando ali como no seu elemento, pois nasceu para o infinito.

O bonito, o gracioso, lindo ou encantador, é forma inferior do belo. Entre o belo e o bonito não há diferença essencial. O bonito ainda é belo, mas belo sem a grandeza, sem a amplitude, sem o brilho da energia do belo em toda a sua intensidade. Assim, um carvalho secular, um grande lago, podem ser belos; mas um riacho ou uma flor, são só lindos. O feio opõe-se ao belo; o que não significa que lhe faltem todos os elementos do belo, mas simplesmente que lhe falta algum destes elementos em grau elevado.

A BELEZA, A VERDADE E O BEM

São íntimas as relações e as analogias entre estas três idéias, que muitas vezes se empregam para se definirem mutuamente. É conhecida a definição falsamente atribuída a Platão: “a beleza é o esplendor da verdade”. Outros definiram: a beleza é o esplendor do bem. O bem moral é frequentemente designado sob o nome de belo. De facto, o verdadeiro, o belo e o bem, em si mesmos, identificam-se no mesmo ser, do qual são três aspectos diferentes.Esta é a razão porque Deus, sendo um Ser absoluto, é também a verdade perfeita, a beleza suprema, e o bem infinito; por isso mesmo, todo o ser vivente, criado à sua imagem e seguidor da sua doutrina, é verdadeiro, é belo e é bom.

Mas, ainda que no ser absoluto estes três conceitos se identifiquem unidos, em relação ao homem eles são distintos; isto porque o homem os identifica por meio de faculdades diferentes, o que obriga a distingui-los de maneira específica, à semelhança do prisma que decompõe a luz nas cores elementares.O verdadeiro, percebido pela inteligência, é o objeto da ciência; o bem, realizado pela vontade, é o objecto da moral; e a beleza, conhecida pela imaginação e sensibilidade superior, é o objecto da estética.

A Beleza

Nada é mais conhecido do que o sentimento do belo; nada é mais difícil de definir do que a sua idéia. Na humanidade, a Beleza produz dois efeitos: dá-lhes prazer e provoca-lhes um juízo. O juízo estético é universal, isto é, quando afirmamos que certo objecto é absolutamente belo, todos devem estar de acordo.A emoção estética é um sentimento agradável, composto de simpatia, de prazer e de surpresa, que pode ser resumido em admiração. Segundo S. Tomás de Aquino, a beleza é a ordem, isto é, a unidade na variedade. Poder-se-ia objetar que há uma certa ordem, uma certa regularidade que nada tem a ver com a beleza. Por outro lado, dizia Boileau que “uma bela desordem é o efeito da arte”.Toda a beleza é essencialmente expressiva; um objeto é belo por causa das idéias e sentimentos que nos sugere. A beleza é expressiva porque exprime a vida e, em particular, a vida do nosso espírito. No dizer de Platão, “a graça das formas provém de elas exprimirem, na matéria, as qualidades da alma”.
Segundo diz Aristóteles na Poética, “toda a beleza deve-se assemelhar à vida”. A beleza é a expressão da vida, mas não de uma vida qualquer; há certas formas de vida que são diminuídas, disformes ou abortivas da vida, que são objecto de compaixão, de desgosto, de aversão e até de horror. O que excita em nós a simpatia, a admiração, o entusiasmo, é a expressão de uma vida rica, livre e harmónica. Assim sendo, podemos definir a beleza como sendo: A expressão que estimula agradavelmente os sentidos, a imaginação, a razão e o sentimento. Esta definição reúne e harmoniza todos os elementos essenciais contidos nas definições de Aristóteles, de S. Agostinho e de S. Tomás de Aquino.

A Lei Iniciática do Silêncio

Platão, quando foi chamado a ensinar a arte de conhecer os homens, expressou-se do seguinte modo: “os homens e os vasos de terracota conhecem-se do mesmo modo: os vasos, quando são tocados, têm sons diferentes; os homens distinguem-se facilmente pelo seu modo de falar”. O pensamento do filósofo Iniciado oferece-nos uma excelente oportunidade para fazermos uma profunda reflexão, principalmente para os que integram a Ordem Maçónica.

Nem sempre nos damos conta de como nos tornamos prisioneiros das palavras que proferimos. Quer por serem a expressão do nosso pensamento; quer por traduzirem as idéias e os sentimentos. Na verdade, as palavras tornam-se um centro emissor de vibrações, tanto positivas quanto negativas.

A palavra é o elemento que identifica o Homem e é a síntese de todas as forças vitais; é o elemento que interliga todos os planos, do mais denso ao mais sutil.

A palavra está intimamente ligada ao silêncio, outra sublime expressão da psique humana.

No mundo profano, a palavra - falada ou escrita - é usada indiscriminadamente. A sociedade humana está cheia de palavras que ofendem, que humilham, que magoam e que denigrem a honra do próximo. Se se trabalhassemos mais e se falassemos menos, com certeza que a humanidade seria mais evoluída e mais civilizada. Infelizmente existem palavras em excesso, não só no mundo profano como também nos Templos Maçónicos. Tal situação é inconcebível em um Maçom, pois no estudo dos símbolos ele aprende a refletir sobre o conteúdo oculto das palavras que, em última análise, refletem a essência interior do ser humano.

Não é por acaso que a filosofia Maçónica reserva o silêncio aos seus membros, de acordo, aliás, com a Tradição Pitagórica. A Escola Iniciática de Pitágoras tinha um sistema de três graus: o de Preparação, o de Purificação e o de Perfeição. Os neófitos do grau de Preparação, equivalente ao grau maçónico de Aprendiz, eram proibidos de falar; eram apenas ouvintes e cumpriam um período de observação de três anos, durante o qual a regra era calar e pensar no que ouviam. No grau de Purificação, equivalente ao de Companheiro Maçom, o silêncio estendia-se por mais dois anos, adquirindo estes Irmãos o direito de ouvir as palestras do Mestre Pitágoras. Assim, para atingir o grau de Perfeição, equivalente ao de Mestre Maçom, quando então os Irmãos podiam fazer uso da palavra, era necessário praticar o silêncio durante cinco anos.

Nas reuniões maçónicas, sem dúvida, que constitui uma prova de sabedoria saber ouvir e manter o silêncio. Chílon, um dos sete sábios da Grécia Antiga, quando lhe perguntaram sobre qual era a virtude mais difícil de praticar, respondeu: “calar”.

No Zend Avesta, que contém toda a sabedoria da antiga Pérsia, encontramos normas e regras sobre o uso e o controlo da palavra, cuja universalidade desafia os séculos. No mundo maçónico, a dimensão da palavra falada e escrita não é muito diferente. O neóftico ao entrar na nossa Sublime Instituição encontra, no ritual, referências à sacralidade da palavra que, como meio de expressão dos pensamentos e dos sentimentos, deve ser sempre dosada, moderada, e deve espelhar o equilíbrio interno do orador.

Na nossa Ordem, a palavra deve ser usada no mesmo sentido em que Dante Alighieri exortava na Divina Comédia o seu personagem Metelo: “usa a tua palavra como um ornamento”.

À primeira vista, o silêncio poderia parecer um condicionamento e um castigo. Na realidade, o silêncio, a meditação e o raciocínio, são a única via que leva à libertação das paixões e dos maus pensamentos. Além de exercitar a autodisciplina, em seu silêncio o Maçom apreende com muito maior intensidade tudo o que ouve e tudo o que vê.

Assim, a voz do Irmão que se mantém em silêncio é a sua voz interior, quando ele dialoga consigo mesmo e, neste diálogo, analisa, critica, tira suas próprias conclusões e aprimora o seu caráter.

Em suma, pelo silêncio, a Maçonaria estimula os Irmãos a desenvolver a arte de pensar, a verdadeira e nobre Arte Real. Deste modo, o silêncio em Maçonaria não é meramente simbólico e não é também um meio de castrar a iniciativa dos Irmãos. O silêncio é indispensável e decisivo no processo de lapidação da Pedra Bruta e no aperfeiçoamento interno dos Irmãos.

Ao cruzar as portas de uma Loja Maçónica, trazendo consigo a liberdade total de expressão, um direito natural que lhe é garantido pela Declaração dos Direitos Humanos, sem as restrições que lhe impõem a moral e a razão, o novo Maçom aprende a controlar os seus impulsos, pela prática espartana do silêncio.

Assim, o maçom aprimora o seu caráter e prepara-se para ser um líder, numa sociedade na qual prevaleçam a Liberdade responsável, a Igualdade de oportunidades e a Fraternidade solidária.

Se tiver de falar, que o maçom siga o conselho de Dante e use a sua palavra como um ornamento. Tudo se resume na prática da Lei do Amor e da Tolerância. Certamente que o Grande Arquiteto do Universo ilumina e abençoa a todos os que pensam mais do que falam, pois estes espiritualizam a sua matéria, e são os Seus filhos mais diletos.

No Templo:O Irmão Aprendiz não só pode como precisa e deve usar a palavra, nomeadamente quando apresenta os seus trabalhos, quando for questionado por outro Irmão, quando tiver informação relevante sobre qualquer candidato à Iniciação, ou quando tiver informação fundamental para a Loja ou para a Ordem. Basta pedir a palavra ao Vigilante da sua Coluna.

O Princípio Vital

A Vida e a vontade Divina são o centro de todo o Universo, que o controla e o superintende em toda a sua grandeza e magnificência, tal como o Sol é o centro e a fonte de vida de todo o nosso Sistema Solar, do mesmo modo que o Universo, este também controla e alimenta de vida os planetas que o rodeiam. Também na vida humana existe um princípio vital e imortal que controla a sua existência, e é um ponto dentro do círculo da sua própria natureza. Porém, vivendo como o Homem vive neste mundo físico, este círculo está limitado por duas grandes linhas paralelas, que representam Moisés e o Rei Salomão, ou seja, o espírito do Homem é controlado pela Lei e pela Sabedoria.

Liberdade

O homem quando se liberta da escravidão dos seus desejos redime o seu espírito, pois liberta-se de todo o erro e de todo o vício, algozes da sua vontade. É como se levasse à sua consciência a luz, que ilumina e põe a nu todos os obscuros recantos desta, purificando-a.

Na verdade, a ausência de domínio da vontade, representa a vitória do mal sobre o bem e, em boa verdade, todo aquele que sucumbe ao poder da escuridão, acaba por se tornar ignorante e escravo de si mesmo, dando desta forma continuidade à história iniciática do homem que se transforma em servo da vontade dos seus desejos.

Sucumbir a toda a espécie de materialidades e desejos, significa tornar-se escravo do mundo e de tudo que nele existe. Porque ser escravo é deixar de ser senhor de si mesmo, para se tornar servo dos desejos obscuros da mente, o que significa perder-se para o espírito e por conseguinte, para a sua própria divindade. Pelo que ser escravo, significa tornar-se um espectro perante Deus e, nada mais do que uma sombra desprovida de divindade.